Friday, 19 December 2008

(jazz do coração)




As mãos suavam frio, o nervosismo tomava meu corpo, e o coração começava o seu compasso descompassado, enquanto o esperado - e temido - momento não chegava.
(Tu...) Cada chamada era como um sinal, para que o concerto do coração dobrasse o ritmo. (Tu...) Poucos segundos depois, o maestro havia desistido de organizar, e a banda tocava alucinada, desenfreada - e agoniante.
(Tu...) "Oi Gi!" . E foi aí que o mundo parou. - apenas a minha banda interior continuava alheia aos fatos, descompassada, descontrolada. Falar? Falava pouco, não por não ter o quê, mas porque estava ocupada em tentar ouvir o que era dito, acima de todos os ruidos. Ele não falava em vão, falava diretamente pro meu coração, que gravava seu timbre, seu sotaque, seu ritmo, como coisas mais preciosas da vida.
A voz, parte fraca de mim, tentava falar, tentava sussurrar. Mas não estava preparada para as emoções que ali eram vividas, e simplesmente recusava-se a entrar no palco. Medo de estragar ? Talvez sim, talvez não. Nunca se sabe.
Fim de uns minutos - poucos ou muitos? - o telefone ainda parado em minha mão , tentando raciocinar o que havia acontecido, feroz comigo mesma e com a banda que não percebia que o show havia acabado, era hora de se retirar.
Enquanto pensava, uma voz - seria um anjo? - me disse, tranquilo: "Garota, isso é automatismo total. É jazz do coração."


Per Gizélia Vasconcelos.


Na vitrola - Nando Reis @ Quem vai dizer tchau?